segunda-feira, 2 de março de 2015

Ode ao Burguês - capítulo 11

Alice, sentada no banco de seu carro (off road - presente de aniversário do burguês), pensava no sujeito de camisa preta enquanto dirigia de volta para casa (na verdade um apartamento grande, com ampla varanda e espaço gourmet). Seu filho mais novo, no banco traseiro, pensava no tênis importado da vitrine, enquanto jogava online em seu celular. O filho mais velho do burguês, em seu quarto, pensava em como entrar para o time de beisebol da sua escola (tradicionalmente cara, bilíngue e extremamente americanófila, apesar de ser brasileira), enquanto assistia aos melhores momentos de um programa televisivo feito por burgueses descolados para burgueses não descolados tentarem rir. A vizinha do burguês, enquanto caminhava em sua esteira, pensava em como convidar seu personal trainer (um rapagão forte, meio pobrinho, mas divertido) para sair sem despertar suspeitas. O burguês, enquanto sonhava com sua vizinha melancolicamente, entrelaçava os dedos dos pés nos fios de seu maravilhoso tapete persa e, quase relaxado, parecia adormecer. O poodle, que pensava ser o burguês, castrado e infestado de perfume floral (recomendado cientificamente), queria latir, queria correr, caçar em matilha, brigar com outros cães, viver em algum bosque cheio de vida... mas, no fim, deixava a visão do pote de ração premium (mas ainda artificial) cheio até a boca, amortecer a sua natureza.

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