Alice, sentada no
banco de seu carro (off road - presente de aniversário do burguês), pensava no
sujeito de camisa preta enquanto dirigia de volta para casa (na verdade um
apartamento grande, com ampla varanda e espaço gourmet). Seu filho mais novo,
no banco traseiro, pensava no tênis importado da vitrine, enquanto jogava
online em seu celular. O filho mais velho do burguês, em seu quarto, pensava em
como entrar para o time de beisebol da sua escola (tradicionalmente cara,
bilíngue e extremamente americanófila, apesar de ser brasileira), enquanto
assistia aos melhores momentos de um programa televisivo feito por burgueses
descolados para burgueses não descolados tentarem rir. A vizinha do burguês,
enquanto caminhava em sua esteira, pensava em como convidar seu personal
trainer (um rapagão forte, meio pobrinho, mas divertido) para sair sem
despertar suspeitas. O burguês, enquanto sonhava com sua vizinha
melancolicamente, entrelaçava os dedos dos pés nos fios de seu maravilhoso
tapete persa e, quase relaxado, parecia adormecer. O poodle, que pensava ser o
burguês, castrado e infestado de perfume floral (recomendado cientificamente),
queria latir, queria correr, caçar em matilha, brigar com outros cães, viver em
algum bosque cheio de vida... mas, no fim, deixava a visão do pote de ração
premium (mas ainda artificial) cheio até a boca, amortecer a sua natureza.
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